Raymundo Paraná

O CONCEITO ESG NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE

Por Dr. Raymundo Paraná
Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFBA; Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia e Ex-Presidente da Associação Latino-Americana para Estudo do Fígado; Diretor do Hospital Aliança Rede D’Or-BA.

Na história da humanidade acumulam-se maus exemplos de danos ambientais e males sociais causados por empresas e/ou empreendimento nocivos. A revolução industrial foi palco de grandes absurdos e de atentados à dignidade humana em nome dos lucros.

O lucro justificando tudo nunca teve percepção sadia na sociedade, mas só nas últimas décadas se tornou intolerável, na medida em que ocorreram maior transparência e velocidade nas informações.

Em 1968, no pós-Guerra, quando abusos também se acumularam sob justificativa do esforço de guerra, em Roma, surgiram os primeiros rabiscos do que seria o ESG (Environmental/Social/Governance). A partir de então, consolidou-se o conceito de que uma empresa saudável e sustentável é aquela que alinha boas práticas administrativas com as suas responsabilidades sociais, ambientais, além de modelo de governança inclusivo e transparente.

O objetivo é trazer os negócios para o mundo da ética e do bem-estar social, tornando-o, não só lucrativo, mas sustentável, multiplicador e transformador.

Neste século, houve consolidação do conceito ESG, que se estruturou progressivamente, definindo como abjetas as práticas predatórias e dissociadas de responsabilidade individual e coletiva do empreendedor.

A prática ESG agrega investimento, fideliza colaboradores e gera respeito da sociedade. No segmento da saúde, a situação é ainda mais delicada, pois o cliente/paciente é o consumidor e o colaborador é agente direto do consumo.

Em adição ao tratamento dos seus agravos à saúde, ele precisa ser protegido de males futuros. Assim sendo, o conceito da assistência à saúde ampliou-se para um conceito amplo de promoção à saúde no âmbito da educação aos clientes e familiares, oferta de serviços fluidos, acessíveis e seguros, sob a ótica do atendimento humanizado.

Em ambiente de potencial insalubridade, colaboradores e consumidores precisam ser cuidados e orientados à exaustão. Este grande desafio agrega ao cliente/paciente (consumidor) e ao colaborador (profissional de saúde) segurança e respeitabilidade, baseados na percepção do cuidado que a instituição proporciona. O ambiente da saúde também é potencialmente estressante. Cuidar da saúde mental dos colaboradores é uma necessidade permanente e premente. Um ambiente onde muitas alegrias ocorrem em paralelo com grandes sofrimentos não poupa oportunidades de desgastes e não minimiza arranhaduras emocionais.

Estes desgastes precisam ser trabalhados no dia a dia da operação, para que a autodefesa ao sofrimento não se transforme em robotização e para que a fenestração ao sofrimento não se transforme em doença mental. Neste contexto, os colaboradores e os clientes se confundem num único universo de responsabilidades da governança. Em paralelo, o culto ao sigilo e ao humanismo são focos do dia a dia, enquanto o combate a qualquer tipo de discriminação é obrigação perene, justamente porque discriminação a um ser humano por qualquer motivo fere de morte os cultuados preceitos humanísticos.

No meio ambiente, tornam-se óbvias as responsabilidades das empresas de saúde. O compromisso com as boas práticas e o cumprimento das recomendações técnicas das nossas Agências vão muito além das obrigações legais. Estão em jogo o manejo de dejetos contaminados, o descarte de medicamentos não utilizados ou vencidos, a responsabilidade com os objetos perfurocortantes e o empoderamento das comissões de infecção hospitalar para dirigir as políticas institucionais de prevenção e terapêutica em doenças infecciosas.

A recente pandemia da COVID-19 descortinou as instituições de saúde brasileiras que atuam nas linhas ESG, conferindo a alguma delas a percepção de robusta ação social, suporte ao Sistema Único de Saúde, cuidado com o colaborador e geração com democratização do conhecimento científico para a sociedade. O conceito ESG em Instituições de Saúde é absolutamente indissociável da sua missão de cuidado ao ser humano no âmbito individual e coletivo.

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